Ligando os pontos
Textos de Marcos de Vasconcellos, jornalista, CEO do Monitor do Mercado, colunista da Folha de S.Paulo e assessor de investimentos.
O jogo entre Lula, Haddad e o mercado financeiro
Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pareceu jogar com isso, ao despejar água no chope da questão fiscal para 2024
06/11/2023 09:53
Não canso de dizer que o mercado vive de expectativas. Os números na tela do seu aplicativo de investimentos ou homebroker movem-se de acordo com o quanto a realidade se aproximou ou se distanciou do que imaginavam os donos do dinheiro.
Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pareceu jogar com isso, ao despejar água no chope da questão fiscal para 2024. Lula, de certa forma, desautorizou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e disse que "dificilmente chegaremos à meta zero" no ano que vem.
Este é o tema da minha coluna na Folha de S.Paulo, nesta semana. Clique aqui para ler o texto na íntegra.
A "meta zero" do déficit fiscal é o governo gastar exatamente o que arrecadar, sem gerar novas dívidas. E Haddad vinha prometendo a perseguição dela a investidores e empresários, como garantia do controle máximo de gastos. Por mais que não acreditem cegamente na promessa, os interlocutores costumam ver com bons olhos a garantia de empenho.
Agora, Lula age como personagem da velha anedota e avisa que a meta "subiu no telhado". Notícias já apontam que o governo discute déficit de 0,25% para 2024. Com isso, o mercado é obrigado a recalibrar suas previsões. A receita funciona para um governante que tem o projeto de dizer, ao fim do mandato, que superou as expectativas.
Veja bem: se o governo não cumprir a promessa de Haddad no ano que vem, seu chefe pode dizer aos mesmos empresário e investidores: "Eu bem que avisei que era difícil". Se o déficit fiscal ficar perto de zero, o que seria um descumprimento da promessa inicial (ruim para a imagem do governo) transforma-se automaticamente em uma "boa surpresa".
O relatório Focus, boletim semanal no qual o Banco Central reúne as previsões dos analistas do mercado, é a testemunha e a prova do que digo.
Entre janeiro, na primeira publicação de previsões do ano, e o fim de outubro, as principais projeções para a economia trazem uma realidade melhor (às vezes bem melhor) do que a inicialmente prevista. Falo de inflação (medida pelo IPCA); crescimento do PIB (Produto Interno Bruto); preço do dólar; e taxa básica de juros (Selic). Veja a tabela:
Previsões do mercado | ||
Data de publicação | 44935 | 45229 |
IPCA (Variação %) | 5,36 | 4,63 |
PIB Total (variação % sobre ano anterior) | 0,78 | 2,89 |
Câmbio (R$/US$) | 5,28 | 5 |
Selic (% a.a.) | 12,25 | 11,75 |
*Fonte: Banco Central do Brasil |
Lembrando que este é o tema da minha coluna na Folha de S.Paulo, nesta semana. Clique aqui para ler o texto na íntegra.
Foto: Ricardo Stuckert Filho
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