Ligando os pontos
Textos de Marcos de Vasconcellos, jornalista, CEO do Monitor do Mercado, colunista da Folha de S.Paulo e assessor de investimentos.
Mercados globais à beira do precipício?
Historicamente, o fundo do S&P 500 é atingido de 7 a 18 meses depois de o Fed começar a cortar juros
08/05/2023 09:36
"Não há nada mais equivocado do que ter certeza", escreveu Millôr Fernandes. E o mercado financeiro exponencia essa máxima. Quem tem certezas demais costuma quebrar a cara e a banca. Por isso é preciso ouvir os otimistas, os pessimistas e os desconfiados o tempo todo.
E tem aumentado, no mercado financeiro, o número de vozes apostando em uma queda generalizada do mercado dos Estados Unidos, nos próximos meses. Não se engane: uma queda no maior mercado do mundo é um tombo aqui também. O S&P 500, índice com as maiores empresas do planeta, orienta, em grande parte, o nosso hoje combalido Ibovespa.
O que indica essa queda, de acordo com gestores e analistas, do Brasil e dos Estados Unidos? O banco central americano, o Fed (Federal Reserve), parece mais perto de começar a cortar os juros.
Os leitores mais atentos vão estranhar a frase acima. O corte de juros não é justamente o que o mercado espera para começar a subir? A lógica é "juros baixos => dinheiro barato => empresas investem => empresas crescem => ações sobem", certo?
A lógica continua a mesma, mas —sempre tem um "mas"— o momento do corte de juros nos EUA historicamente acontece à beira do precipício, quando a recessão abre a porta e as empresas não conseguem pagar mais suas dívidas, a inadimplência dispara, bancos quebram… E essa é a fórmula para derrubar a Bolsa.
Entre as primeiras empresas a apanhar estão as que dependem de gastos considerados supérfluos. "Onde, em uma recessão, vai ter gente disposta a pagar US$ 10 em um copo de café?", questiona o analista Bo Williams, da PhiCube, ao apontar ações da Starbucks como boas candidatas a operações de venda a descoberto (o chamado short selling, em que você ganha com a queda do preço dos papéis).
Historicamente, o fundo do S&P 500 é atingido de 7 a 18 meses depois de o Fed começar a cortar juros, contabilizou o gestor de investimentos Pedro Cerize, em entrevista ao podcast Market Makers. Depois disso, os gráficos costumam mostrar preços ladeira acima.
O mercado enxerga uma probabilidade de quase 75% de os juros nos EUA ficarem abaixo da atual faixa (de 5% a 5,25% ao ano) após a reunião do Fed do dia 20 de setembro.
Este é o tema da coluna de Marcos de Vasconcellos, CEO do Monitor do Mercado, na Folha de S.Paulo, nesta semana.
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