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Modus Operandi

Economia Comportamental, com Thiago Raymon, gestor da Titan Capital.

Antes de investir, é melhor responder: Você dirige bem?

Superconfiança costuma aparecer nas decisões financeiras e atrapalhar seus planos.

icone de relogio 07/10/2022 15:19

Faça a seguinte pergunta a você e aos seus amigos/familiares: “Comparado com o que se vê no trânsito, suas habilidades como motorista estão acima, abaixo ou na média?”. É esperado que 1/3 das respostas sejam acima da média, 1/3 na média e 1/3 abaixo da média. Contudo, não é o que realmente você vai escutar.

Ola Svenson, no seminal estudo “Are we all less risky and more skillful then our fellow drivers?”, em 1981, fez a exata pergunta do título desse texto para 161 estudantes da Universidade de Oregon e da Universidade de Estocolmo. Os resultados mostraram que 82% dos entrevistados se considerava com destreza de direção acima da média. Muito provavelmente o resultado da sua pesquisa pessoal será semelhante. O estudo de Svenson revela que as pessoas tendem a caracterizar suas habilidades “acima da média” sem, ao menos, ter clareza dessa média, demonstrando um grau de excesso de confiança.

Ter excesso de confiança em relação à sua habilidade de direção pode não ser um grande problema. No entanto, é nas decisões financeiras que essa “superconfiança” costuma aparecer, principalmente na tomada de decisão de investimentos. Essa irracionalidade pode afetar a aversão ao risco do investidor, gerando a ilusão de que suas decisões são menos arriscadas do que realmente são.

Barber e Odean, no artigo Trading Is Hazardous to Your Wealth: The Common Stock Investment Performance of Individual Investors, investigou 78.000 contas familiares durante 6 anos, analisando sua tomada de decisão perante seu portfólio. A pesquisa mostra que a carteira de um investidor superconfiante tem duas principais características. A primeira delas se refere à tendência de escolha de comprar ativos de alto risco, podendo ser ações de empresas pequenas ou novas. A segunda característica está na grande concentração de ativos, consequência de uma baixa diversificação.

Além disso, Barber e Odean mostram que o excesso de confiança leva ao excesso de compra e venda. Foi provado que a alta rotatividade da carteira não levou a um ganho superior ao mercado, mas sim o contrário disso. O estudo quis determinar se vender a ação X e comprar a ação Y foi um bom negócio para os investidores analisados. Em média, as ações vendidas superaram em 5,6% o rendimento anual das ações compradas. Como conclusão, além de rasgar dinheiro com corretagem, a superconfiança leva a decisões erradas.

E qual é a principal origem do excesso de confiança? A ilusão do conhecimento. A internet traz ao investidor individual um grande volume de informação, como dados históricos, notícias, análises, grupos de Telegram, youtubers, preços a tempo real. É um acesso à informação quase tão bom quanto para um profissional da área. Contudo, por falta de treinamento e de experiência, essa avalanche de informação pode não embasar o investidor na tomada de decisão da melhor maneira. A pesquisa de Michael Dewally, Internet Investment Advice: Investing with Rock of Salt, ao examinar grupos de discussão de investimentos on-line, mostrou que, em média, as ações escolhidas não superaram o mercado.

O excesso de confiança, assim como diversas outras irracionalidades, pode afetar negativamente a tomada de decisão em diversos aspectos nas nossas vidas. Parafraseando Benjamim Graham, o principal problema do investidor, e até mesmo o seu pior inimigo, é provável que seja ele mesmo.

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