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Modus Operandi

Economia Comportamental, com Thiago Raymon, gestor da Titan Capital.

Faça as pazes com suas perdas e invista melhor

Jogue uma moeda para cima com a seguinte aposta: se cair “cara”, você ganha R$ 1 mil, caso dê “coroa”, você perde R$ 1 mil. Se deu “cara” nas três primeiras vezes, você acabou de ganhar R$ 3 mil, em poucos segundos. E agora? Aceita mais uma rodada?

icone de relogio 30/11/2022 13:24

Jogue uma moeda para cima com a seguinte aposta: se cair “cara”, você ganha R$ 1 mil, caso dê “coroa”, você perde R$ 1 mil. Se deu “cara” nas três primeiras vezes, você acabou de ganhar R$ 3 mil, em poucos segundos. Seu corpo se enche de dopamina e você está extremamente satisfeito.

E agora? Aceita mais uma rodada? Caso você tenha perdido R$ 3 mil, qual seria a resposta para um novo convite?

Um ganho ou uma perda pode enviesar o processo decisório do investidor, mudando até mesmo a percepção de risco.

Um experimento semelhante a esse, da moeda, foi feito por Richard Thaler e Eric Johson, em 1990, que o descreveram no artigo Gambling with the House Money and Trying to Break Even: The Effects of Prior Outcomes on Risky Choice.

Os autores estudaram o comportamento de alunos de graduação e pós-graduação de Economia e observaram a presença de alguns comportamentos nas decisões de aposta, entre eles estão o efeito snake bite (“picada de cobra”) e o efeito trying-to-break-even (“tentativa de sair empatado”).

Thaler e Johson, ao realizar a dinâmica parecida com o jogo de “cara e coroa” que deixou você muito rico no início do texto, mostrou que 77% dos alunos que fizeram a aposta inicialmente aceitou o convite para a próxima rodada. Já entre aqueles que tiveram retornos negativos, mais da metade se recusou a entrar novamente na aposta. Aparentemente, sentiram a “picada da cobra” e decidiram não mais correr riscos.

Como visto no estudo, a probabilidade de se aceitar ir para a próxima rodada do “cara e coroa” é muito maior para aqueles que obtiveram um retorno positivo na primeira rodada. Depois de se ter o lucro, o indivíduo acaba criando maior propensão a aceitar riscos.

Foi dado também a chance de outro tipo de aposta, na qual era “o dobro ou nada” e a moeda era enviesada, provendo chances maiores para a perda do que para o ganho. Boa parte dos alunos perdedores da primeira rodada entrou nessa aposta, mesmo tendo maiores probabilidades de retorno negativo do que positivo.

É uma espécie de tentativa desesperada de, ao menos, compensar as perdas da primeira rodada e sair no break even. Alguns outros estudos mostram esse comportamento bastante presente em day traders, que, ao ter um prejuízo na primeira parte do dia, buscam estratégias mais arriscadas para compensar sua perda.

É indiscutível que o maior sonho do investidor no mercado é “vender na alta e comprar na baixa”. Contudo, o estudo de Thaler e Johnson mostra que temos a prática de comprar ações que estão subindo e desfazer daquelas que estão nos dando prejuízo, já que fomos “picados pela cobra”.

Nesse sentido, como bem afirmam os consagrados pesquisadores Daniel Kahneman e Tversky, na Teoria do Prospecto: faça as pazes com suas perdas.

 

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