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Modus Operandi

Economia Comportamental, com Thiago Raymon, gestor da Titan Capital.

Contos de fadas e "efeito manada" nos investimentos

É incontestável que aprendemos com as interações sociais, mas até que ponto isso pode ser saudável para a decisão de investir em algo?

icone de relogio 14/03/2023 17:09

Mesmo com 2021 e 2022 marcados por altas na SELIC, ainda estamos longe dos níveis taxa básica de juros de anos atrás. Além de servir como um moderador da “quantidade de dinheiro” na economia e base para a remuneração de grande parte dos ativos de renda fixa, a queda da SELIC trouxe uma nova cultura ao brasileiro: investimentos viraram conversa de bar.

Discussões acaloradas sobre se o preço de determinada ação está caro ou barato entre uma caipirinha ou outra virou nosso novo normal. É incontestável que aprendemos com as interações sociais, mas até que ponto isso pode ser saudável para a decisão de investir em algo?

Inicialmente, entenderemos que, em boa parte das vezes, o que nos motiva a tomar certas ações não é a lógica e a racionalidade usada no discurso da conversa, mas sim a história e como ela é contada. O estudo Evidence Evaluation in Complex Decision Making, de Pennington e Hastie, investigaram o processo de tomada de decisão de jurados em escolher absolver ou considerar culpado um caso com 50 declarações de acusação e 50 de defesa. Exatamente o mesmo material foi apresentado nas declarações, mudando apenas a forma das falas.

Em determinadas declarações, as informações eram apresentadas na ordem cronológica e em outras alegações apresentadas na ordem das testemunhas. Quando a acusação apresentou evidências na ordem cronológica e a defesa usou a ordem das testemunhas, 78% dos jurados retornaram um veredicto de culpado. Quando o contrário aconteceu, apenas 31% dos jurados consideraram o réu como culpado.

A dinâmica social faz com que muitas vezes estejamos em grupos, seja entre caipirinhas no bar ou em um clube de investimentos, e que decisões sejam feitas em conjunto. A expectativa é que os grupos se reúnam, troquem ideias e cheguem a conclusões sensatas. Irving Janis, psicólogo e pesquisador da Universidade de Yale, mostra que as coisas não são bem assim. Ele cunhou o termo groupthink (pensamento de grupo) que, em suma, descreve os resultados disfuncionais do pensamento em conjunto.

Entre diversas características, Janis mostra que esse tipo de pensamento leva a uma ilusão de segurança e moralidade compartilhada por todos, além de decisões ruins sendo consideras racionais e falta de avaliação das ideias individuais

Vamos expandir um pouco mais nosso conceito de grupo. A grande demanda por investimentos que trazem um ganho mais atrativo, resultante desse novo normal de taxas de juros baixas, faz com que sejam criados novos periódicos de finanças, aplicativos, youtubers, podcasts, e diversas outras fontes de informação.

A opinião de qualquer influenciador digital começa a virar consenso com uma velocidade cada vez maior. Ao passo que as pessoas agem baseadas nessa conformidade geral, vai desenvolvendo uma das mais famosas heurísticas do mercado financeiro, o “efeito manada”.

Para entender melhor as consequências dessa irracionalidade, imagine-se agora em uma cafeteria. Café vai, croissant vem e, no ápice da calmaria, acontece um estrondo ensurdecedor vindo do lado de fora e todos que estão no recinto começam a correr desesperadamente. Qual seria sua reação?

É fato que aprendemos com outras pessoas, assim como também é fato que gostamos de conversar e das discussões acaloradas sobre o preço de uma ação. Não é difícil achar uma pessoa que tenha alguma opinião ou tenha escondido algum segredo de alguma oportunidade de investimentos imperdível.

O que não se pode é tomar atitudes precipitadas, antes de entender profundamente a lógica do que é apresentado. Não existe conto de fadas no mercado. Uma dica? Falou as palavras “oportunidade”, “barato” e “caro”, talvez você esteja diante de um lindo conto de fadas.

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