Modus Operandi
Economia Comportamental, com Thiago Raymon, gestor da Titan Capital.
Quanto você realmente precisa saber para investir bem?
01/06/2023 13:04
Mais informação é preferível a menos informação? A resposta mais óbvia dessa pergunta é “sim”. A informação é uma das principais mercadorias no mundo tecnológico em que vivemos e ignorá-las não seria um bom negócio. Em regra, nos acostumamos a dizer que mais é sempre melhor que menos. Mas a pergunta chave é: mais informação é equivalente à informação melhor?
A pesquisadora Meliha Handzic, da Universidade de New South Wales, na Austrália, fez um experimento com o intuito de estudar a capacidade de um indivíduo de processar e usar informações para tomada de decisão. Para tanto, a autora desafiou dois grupos a estimar a venda de sorvete no dia seguinte de determinada loja. Eram disponibilizadas três informações: temperatura local, o número de visitantes e a duração de luz solar no dia.
A única diferença entre os dois grupos era a quantidade de informação disponível. Um grupo tinha apenas uma dessas três informações listadas e o outro tinha todas. Incrivelmente, a turma que tinha menos dados conseguiu ter um poder de previsibilidade maior da demanda de sorvetes e, consequentemente, tomou as melhores decisões.
Para os fãs de ações, os cientistas Davis, Lohse e Kottermann fizeram um estudo semelhante ao de Handzic, analisando o processo decisório de alunos de MBA em Economia na previsão do lucro do último trimestre do ano de determinadas empresas listadas, baseados em informações sobre os nove meses anteriores tidas como úteis (lucro por ação, vendas líquidas e preço), além de dados extras (que em alguns casos eram úteis e em outros eram irrelevantes ou redundantes).
A presença dessas informações adicionais fez com que a taxa de erro das previsões aumentasse significativamente. O mais marcante desse estudo é excesso de confiança gerado nos participantes que recebiam os dados extras. Esse tipo de confiança leva à ilusão do conhecimento, inimiga da racionalidade.
A alta frequência de informação ainda pode invocar um outro arquirrival da aposentadoria e da independência financeira, a miopia financeira. Ela é a combinação de uma maior sensibilidade a perdas do que a ganhos, com tendência a avaliar resultados frequentemente.
Essa miopia é uma bomba relógio para seu planejamento financeiro de longo prazo. Dois dos principais estudiosos do tema, Shlomo Benatzi e Richard Thaler, no seminal artigo Myopic Loss Aversion and the Equity Premium Puzzle, mostram que os investidores escolhem suas carteiras para a aposentadoria como se estivessem operando com um horizonte de tempo próximo de um ano.
Ciente desse viés irracional do investidor, os reguladores do mercado financeiro de Israel proibiram a divulgação dos retornos dos fundos de pensão por um período menor do que um ano. A cientista Maya Shaton, no estudo The Display of Information and Household Investment Behavior, mostrou que essa mudança causou redução na sensibilidade do investidor a retornos passados, queda no volume de negociações e aumento na alocação de ativos para fundos mais arriscados.
É natural termos uma sede de receber mais e mais informações. É também natural acreditarmos que precisamos saber mais do que todo mundo para termos um desempenho superior. A questão é que temos limitações cognitivas em lidar com uma frequência alta de informações.
A literatura mostra que uma quantidade alta de informação pode aumentar nossa disposição a fazer uma análise míope dos nossos investimentos, dilatando o nosso excesso de confiança sem aumentar nossa precisão. Respondendo à pergunta chave desse texto: mais informação não significa informação melhor.
Imagem: Unsplash
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