Retorno Garantido

As oportunidades e armadilhas dos investimentos em Renda Fixa, com Paula Lopes, da Wise Investimentos/BTG Pactual.

A janela de oportunidades do crédito privado está se fechando

A tempestade criada no começo do ano gerou uma abertura generalizada de spreads e boas empresas começaram a oferecer margens mais altas para os investidores.

Gráfico investidor - Unsplash

icone de relogio 10/08/2023 14:23

As repentinas crises da Americanas e da Light assustaram os investidores, elevando a percepção de risco do mercado de crédito como um todo e estressando o mercado de Renda Fixa no início desse ano.

Observamos um movimento bastante similar àquele presenciado durante a pandemia: um fluxo intenso de resgates dos fundos de investimento de crédito privado — o que elevou consideravelmente os níveis de prêmio (ou ganhos) de ativos desta classe.

Ou seja, essa pressão vendedora de agentes de mercado devido à preocupação maior com os fundamentos de crédito das empresas, em um cenário de maior restrição de oferta de crédito e juros altos, forçaram os gestores dos fundos a se desfazerem de suas posições em ativos com melhor risco de crédito, por níveis de prêmio (algo como níveis de "ganho esperado") muito acima do que usualmente aquela empresa estaria pagando e, portanto, incondizente com seu risco de crédito.

Na prática, empresas mais sólidas, com bons indicadores financeiros, oferecerem prêmios menores, condizentes com seus riscos menores também. Para elas, é “mais fácil” conseguir dinheiro, então não precisam oferecer muito por ele. Por outro lado, empresas mais alavancadas, com mais risco em suas operações, precisam oferecer mais prêmio para chamar investidores.

No entanto, a tempestade criada no começo do ano gerou uma abertura generalizada de spreads e boas empresas começaram a oferecer margens mais altas para os investidores, criando oportunidades para captura de prêmios elevados em ativos de companhias de alta qualidade creditícia.

De acordo com analistas do BTG Pactual, o movimento foi muito mais técnico do que de fato um problema estrutural e generalizado — o que criou essa oportunidade pontual de comprar bons títulos a preços ótimos.

Passado susto, ao longo dos últimos meses, foi possível notar uma normalização do cenário de crédito e um reajuste dos prêmios dos ativos para níveis menos estressados.

Em fevereiro, a curva de prêmio sobre o Tesouro IPCA+ (ou NTN-B) atingiu picos próximos de sua máxima histórica (aprox. 190 bps), inclusive superiores àqueles vistos durante o período de pandemia em 2020 (aprox. 150 bps). Raramente o investimento mais seguro do país paga tanto quanto pagou em fevereiro.

Desde então, a curva já chegou a baixar aproximadamente 50bps até julho deste ano, para um prêmio próximo de 130bps. Mesmo com a redução, o Tesouro IPCA+ ainda está pagando mais agora do que estava em janeiro deste ano.

Para o BTG Pactual, ainda é cedo para falar em um nível definitivo de fechamento/estabilização dos prêmios, dada a sensibilidade do mercado. Contudo, nomes mais defensivos, atrelados a setores mais resilientes (como saneamento e energia) e com bom risco de crédito tendem a seguir com um valuation (avaliação) atrativo enquanto observarmos volatilidade nos mercados.

Esse fechamento da curva de juro real e seu leve ganho de inclinação, fez com que títulos públicos como o Tesouro IPCA+ 2028, Tesouro IPCA+ 2030 e Tesouro IPCA+ 2035 tivessem um fechamento alto de seus prêmios desde o início do ano, proporcionando aos seus investidores um ganho (ágio) bastante interessante considerando o momento atual.

Os três títulos chegaram a fechar aproximadamente 80-100bps até julho de 2023. Sendo assim, investidores que entraram nesses títulos acima de IPCA + 5,30% (aproximadamente) e, idealmente, próximo de IPCA + 6,10% (aproximadamente), estão com grandes chances de estar carregando um ágio expressivo em sua posição de títulos do governo.

Os rendimentos do governo são os mais seguros e confiáveis. Por isso, rendem menos que o crédito privado, mas isso não significa que são necessariamente melhores.

Pensando em manter uma exposição a inflação dentro da carteira, mas visando um melhor potencial de retorno dentro do portfólio, vender os títulos públicos e trocá-los por privados, além de realizar o ganho antecipado, pode melhorar seu retorno, já que proporcionam:

  1. Prêmios mais interessantes;
  2. Isenção de IR para pessoa física;
  3. Baixo risco de crédito dependendo do emissor (high grade, com ratings de crédito elevados entre AA, AA+ e AAA).

Atenção, antes de fazer uma alocação ou troca de ativos na carteira, é importante fazer uma análise aprofundada do perfil de investidor. Mas, de maneira geral, essa troca de ativos pode fazer sentido para quem aguarda uma boa oportunidade para realizar o ganho de seus títulos, tendo em vista que o momento atual é favorável para tal movimentação e potencializa o retorno da sua carteira sem, necessariamente, adicionar muito risco.

No aspecto de liquidez, títulos públicos possuem uma maior flexibilidade em relação ao mercado privado. Contudo, vale ressaltar que emissões de crédito privado de maior volume, feitas por emissores de grande porte e considerados high grade (ou seja, que investem em créditos considerados bons), também possuem um bom fluxo de negociação no mercado secundário.

A janela de oportunidades para essas operações está se fechando, enquanto o mercado vai se ajustando, por isso, fique atento e contate seu assessor de investimentos

Após o período de normalização da curva de juros que estamos vivenciando, o investidor até poderá obter ativos com o nível de prêmio atual, contudo, para isso terá que renunciar ao baixo risco de crédito e investir em emissores de porte reduzido, ratings menores e atrelados a setores da economia menos resilientes.

Quer melhorar sua estratégia para investir? Converse com um especialista da Wise Investimentos.